Wednesday, February 27, 2013

A inovação como fonte de renda

 


*Foto: Sebrae


Inovar é criar alternativas que fogem da rotina, é observar o que está sendo feito e fazer diferente para obter resultados antes obtidos. É deixar de lado a famosa frase “é assim que é feito aqui há gerações” e entender que o mundo está em constante mudança, logo, é necessário embarcar nesse imenso arcabouço de transformações e vislumbrar o que podemos fazer de diferente e não perder a ponta da corda.

A cadeia de café não está alheia às mudanças que ocorrem no mundo, historicamente, os agricultores são mais conservadores e reticentes às mudanças que ocorrem nos negócios. É importante mudar para sobreviver e para estar à frente do que seus concorrentes estão fazendo.

Lembro-me de um agrônomo, amigo, que um dia contou uma história sobre o uso de calcário nas lavouras de café. Usar calcário para corrigir o PH do solo era uma coisa de outro mundo, porém com essa inovação foi possível ter um aproveitamento melhor de alguns tipos de solos.

Como é feita a gestão da sua produção? Todas as despesas estão anotadas? O café é de boa qualidade? Qual o tipo do seu café? Qual tipo de café que o mercado está exigindo? O armazenamento é feito de forma correta? Certificação é um bom negocio?

A forma de inovar e criar valor no seu café pode estar na resposta de uma dessas perguntas acima, porém se continuar a dizer que “’é assim que é feito há gerações”, não dará oportunidade para mudar e inovar nos processos de produção. Muitas vezes, inovamos para nos mantermos no mercado, contudo, no meio do caminho descobrimos que podemos ser melhores que nossos concorrentes, obtendo mais lucros.


Friday, February 22, 2013

E aí, produzir café natural ou cereja descascado?


 

 

Esse tema tem sido recorrente no meio da cafeicultura de Conilon nos últimos anos, porém seria o método por via úmida a melhor forma de agregar valor ou manter o café pelo método de secagem natural como forma de melhorar a renda nas propriedades?

 

Apenas para refrescar a cabeça, segue abaixo um resumo dos dois métodos mais utilizados na cafeicultura de hoje:

 

Cereja Descascado:

 

Na forma de preparo por via úmida, originam-se os cafés despolpados, desmucilados e cereja descascados. O preparo do café despolpado e desmucilado, consiste na retirada da casca e mucilagem do fruto de café maduro. Enquanto no preparo do café cereja descascado (CD) é retirada apenas a casca do fruto e este é levado para secagem com a mucilagem aderida ao pergaminho.

 

Natural:

 

O fruto é seco na sua forma integral (com casca e mucilagem), dando origem aos cafés denominados coco, de terreiro ou natural.

 

Discursarei dois assuntos, dentre os diversos temas que poderia abordar nesse contexto, demanda de mercado e análise sensorial dos cafés. Caso seja pertinente volto ao assunto.

 

O mercado dos cafés de alta qualidade está mais inclinado em aceitar o café cereja descascado com sendo o Conilon de qualidade. Existem alguns fatores para que essa premissa seja verdadeira. O café cereja descascado é mais suave, menos encorpado e mais propenso para serem feitos “blends” com outros tipos de café.

 

Outra razão é pelo fato de compradores internacionais ofertarem no mercado cafés provenientes da África  e Ásia, ( excluo o Vietnã, pois é um assunto  a parte).Os cafés provenientes dessas regiões são provenientes de métodos por  via úmida ou quando são cafés naturais , são oriundos de altas altitudes, com uma acidez acima da média, o que suaviza o café.

 

Os bons cafés  Conilon naturais do Brasil ainda são em pequena quantidade, restrito a um pequeno grupo  de  torrefações ao redor do mundo.A falta de volume desse café gera um inviabilidade aos comerciantes e exportadores em investir nesse mercado.

 

Com esse cenário, é interessante comparar as análises sensoriais de cada café: Natural e Cereja descascado.

 

Em algumas provas de cafés Conilon, feitas com degustadores profissionais e com um protocolo de degustação próprio para Conilon foi observado as seguintes características:

 

Natural*: Café com aromas intensos de caramelo, açúcar mascavo, chocolate e frutas Vermelhas. Possui um sabor com  intensidade de médio-alto e corpo acentuado.É um café que preenche a boca do consumidor, sendo bem encorpado.Retrogosto  de tabaco presente.

 

Cereja Descascado*: Cafés com aromas doces, com notas de chocolate e baunilha de intensidade médio-baixas. O sabor desses cafés é mais limpo e suave, com uma acidez mais elevada. Retrogosto pouco duradouro.

 

Nota-se que os cafés, após sua preparação adquirem nuanças diferentes e que bem trabalhados podem ser ofertados em diferentes mercados. A falta de volume juntamente com o não conhecimento do mercado consumidor dificulta a popularização desses tipos de café nos mercados de alto valor agregado. O conhecimento do mercado e a finalidade do café é um ponto chave na escolha de qual método de preparo será utilizado pelo produtor.

 

Nota: Café Natural proveniente de Vila Valério;Café CD proveniente de Santa Teresa.

Wednesday, February 20, 2013

A gestão da marca “Conilon”.


Quando alguém menciona a palavra conilon, qual a primeira palavra que vem a sua cabeça?

Por muitos anos, o café Conilon foi tratado como um café ruim, aliás, no início de sua produção comercial no Brasil era taxado como veneno por alguns. Outros diziam que Conilon nem era café e assim foi durante anos.

Ser reconhecido como café ruim ou veneno é muito pior que não ser conhecido. Esse estigma o Conilon tem carregado e alguns poucos na cadeia estão tentando desmistificar essa má imagem que esse café possui.

Podemos dividir o reconhecimento do café Conilon em dois mercados: Mercado Interno e mercado Externo.

Quando mencionei acima que é melhor não ser reconhecido a ter uma imagem ruim, é porque no mercado interno o café Conilon é visto como um produto de segunda linha, ruim, inferior. Em um processo de construção de uma imagem, gasta-se muito mais recursos quando já existe um pré conceito em relação a um produto, imagem ou pessoa.

No mercado Externo, o café Conilon é pouco conhecido, logo os produtores e comerciantes do Conilon tem uma oportunidade única para demonstrar todas as qualidades do café Conilon produzido no Brasil e posicioná-lo em mercados de alto valor agregado. Competir com o Vietnã em custo é quase que cometer um suicídio. Temos que diferenciar o Conilon em relação aos outros cafés do mundo.

Fazer a gestão de uma marca não é simplesmente colocar uma propaganda em um jornal e dizer que o produto é bom. O consumidor assim que experimentar verá que o produto não condiz com que está sendo anunciado. Gerir uma marca é gerenciar todos os aspectos mercadológicos desse produto; é ter uma relação com o consumidor do seu produto; Saber como o café é consumido. Produzir por produzir, sem gerir os processos que agregam valor ao café é simplesmente produzir uma commodity e deixar que os outros precifiquem seu produto.

O café Conilon precisa de uma gestão de marca que o posicione de maneira correta, senão sempre será um café de segunda linha.


Friday, February 15, 2013

Oferta e demanda por Conilon de qualidade


Escrevi esse artigo no fim do ano de 2012 e gostaria de compartilhar com todos vocês .

 

Para termos uma dimensão do mercado que o café Conilon está inserido, será levado em consideração um conceito econômico básico: oferta X demanda.

 

Historicamente a oferta de cafés de alta qualidade era suprida por cafés Arábicas provenientes de Países como Colômbia, Etiópia, Quênia, Indonésia e países da America Central, sendo o Brasil visto como um país que supria cafés commodities. Com o incremento da demanda por cafés de alta qualidade, alguns produtores brasileiros conseguiram inserir seus cafés nessa fatia de mercado, porém sempre com um deságio em relação aos competidores citados.

 

         Na última década, diante de uma conjuntura internacional de aumento desenfreado do consumo de café e uma baixa produção dos tradicionais produtores de cafés especiais, o Brasil se tornou local de suprimento para as torrefações do mundo.

 

         Com esse cenário, os produtores de café Arábicas se viram impossibilitados de suprir o café exigido pelas torrefações, seja por motivo de falta de produto ou por uma supervalorização desse tipo de café, isso fez com que as torrefações experimentassem e substituíssem os cafés Arábica por Robusta/ Conilon de alta qualidade.

 

         Ao observar os movimentos de mercado no quesito oferta e demanda por cafés Robusta/Conilon é perceptível que no decorrer da última década  a inserção de Conilon nos blends (misturas) se tornou gradativamente maior. No início da década a média percentual de Conilon em um blend de café era de 25%, hoje já ultrapassa 50%. Nos cafés especiais, o percentual que antes se aproximava de 0%, hoje já está em torno de 15%. É notável a forte e consistente demanda por essa variedade de café.

 

         No quesito oferta, alguns países produtores de Robusta /Conilon estão com sua capacidade de suprimento no limite:

 

Vietnã

 

Maior produtor da Variedade Robusta possui uma produção em torno de 20 milhões de sacas, porém estão com dificuldades de aumentar a área plantada, devido a fatores como: aumento do custo da mão de obra e custo de produção.

 

Países Africanos (Uganda, Camarões, Costa do Marfim)

 

Responsáveis por abastecer grande parte da Europa com cafés Robustas Finos, têm sua produção limitada pela falta de tecnologia empregada no campo e por uma produtividade baixa de seus cafezais, além de uma infraestrutura precária para escoar seus produtos.

 

Indonésia e Sudeste Asiático

 

Responsável por suprir parte da Ásia e Oceania. Essa parte do mundo é  uma grande competidora para o Brasil, contudo, em termos de tecnologia estão anos atrás do Brasil.

 

Índia

 

Grande fornecedora de cafés Robusta de alta qualidade para o mundo. Apresenta um acentuado crescimento do mercado doméstico, o que está fazendo com que grande parte do seu café fique no país e as áreas de produção não tem aumentado muito.

 

 

Brasil

 

O Brasil, principalmente o estado do Espírito Santo, tem a capacidade de ser uma dos maiores fornecedores de cafés Robusta/ Conilon de alta qualidade do mundo, devido a uma série de fatores que possui e que foi construído ao longo dos anos.

·         Áreas agricultáveis propícias para café Conilon;

·         Proximidade com mercados consumidores, tanto no Brasil quanto no Exterior;

·         Pesquisa em manejo da cafeicultora possibilitando vantagem competitiva;

·         O café é um produto inserido na cultura do Capixaba;

·         Produtividade acima da média, possibilitando diagnosticar cafés de alta qualidade.

·         Microclimas que possibilita diferenças sensoriais

 

         Diante dessas informações é possível concluir que temos um cenário de crescimento para os cafés Conilon de alta qualidade, contudo é necessário fomentar esse cenário junto aos produtores para que se conscientize que esse mercado é lucrativo para todos na cadeia.

 

Friday, February 8, 2013

Você conhece o seu café?

Direto do cafezal


Notas enzimáticas (flores), caramelização de açúcar (chocolate, baunilha, caramelo) são fragrâncias que o mercado de café reconhecem como positivos em um café de qualidade.Esses atributos presentes no café são percebidos pelo ser humano de acordo com sua experiência olfativa, com isso, profissionais envolvidos na análise do café tem a capacidade de corelacionar esses aromas em um café de qualidade.

Com a exigência cada vez maior dos consumidores por produtos de alta qualidade, o processo produtivo do café passou a ter uma importância muito grande para a obtenção desse produto demandado por uma clientela cada vez mais informada e disposta a pagar um preço maior pela "qualidade".

Conhecer o produto que é feito na fazenda e saber o valor que esse produto possui é papel do produtor de café nesse mercado de qualidade. Percebam que usei a palavra valor e não preço, pois são dois conceitos diferentes em negócios.

É notório, que o produtor de Conilon sabe produzir e cada vez mais aumenta a produtividade de suas lavouras, mas você saberia dizer que tipo de café e quais atributos seu café possui?

Sem conhecer o real valor do café, o produtor sempre ficará refém dos preços praticados no mercado, não sendo possível barganhar ou exigir um determinado valor pelo seu produto. No Brasil se usa a classificação oficial Brasileira ( COB) que classifica o café por tipo ( sendo tipo 2 o café com menos defeitos e tipo 8 o de maior defeito ).

Recentemente, surgiu o Protocolo de degustação de Robustas Finos, uma metodologia criado pelo CQI – Coffee Quality Institute- que analisa dez quesitos no café com o objetivo de analisar a bebida do café, não somente os defeitos encontrados.

O conhecimento do café , alinhado as boas práticas agrícolas posicionarão o café conilon em um mercado de cafés de alta qualidade em um curto espaço de tempo. A qualidade demandada pelo mercado pode ser conquistada em diversos elos do processo, há de ser saber onde o investimento gera retorno e onde o valor esta sendo gerado.

Wednesday, February 6, 2013

Direto do cafezal

 
Arthur Fiorott – especialista em degustação de café e diretor de marketing da Conilon Brasil

Pilar da economia agrícola capixaba e responsável pela movimentação de renda de grande parte dos municípios, o café faz parte do dia-dia do Espírito Santo. No campo e na mesa, o produto é a marca da agricultura capixaba. Neste espaço, no site www.campovivo.com.br as terças e quintas-feiras, Arthur aborda as novidades e tendências da cafeicultura. Na quartas e sextas, o blog CAFETERIA publicará o artigo.



Qual o papel do Conilon de Qualidade no mercado de Cafés de Gourmet?


Essa pergunta todos os envolvidos no agronegócio café estão querendo responder para entrar no mercado de cafés de qualidade. Há alguns aspectos e sinais que o mercado disponibiliza na qual os envolvidos nesse negocio podem usar para seu direcionamento.

Em primeiro lugar, a demanda por cafés de alta qualidade está crescente e de maneira sólida. Com uma demanda sólida e uma oferta limitada de arábicas, surge uma pressão nos preços da matéria prima e um achatamento nas margens líquidas dos torrefadores, logo, há uma necessidade de equilibrar essa conta. O conilon de qualidade é capaz de ser inserido nesses blends de alta qualidade sem piorar a qualidade do produto final, diminuindo ou mantendo o custo da operação; e digo mais,Conilon de qualidade melhora certos blends de arábica, incorporando atributos que arábicas não possuem.

Em segundo lugar, no cenário de médio e longo prazo, a substituição cada vez maior por robustas de qualidade será a única alternativa para as torrefações, pois as áreas agricultáveis propicias para café Arábica estão diminuindo e o café Conilon tem se tornado uma opção rentável para os produtores.

Para não me alongar, diversos fatores contribuem para que nos próximos anos, o percentual de Conilon nos blends de café especial aumente, porém há de ser fazer o dever de casa no processo produtivo e na comercialização dessa espécie de café. O conhecimento do produto que está sendo colocado no mercado é de extrema importância para que aumente o volume desse tipo de café ofertado ao consumidor.

P.S. Essa semana, a café editora lança o primeiro guia de cafeterias do Brasil. Belo trabalho realizado por essa competente empresa. Parabéns aos idealizadores.